Matéria publicada pela Folha de São Paulo em 1996

2017-07-06 (6)

Estava eu estudando e navegando sobre a Acupuntura quando acho uma matéria de 28 de agosto de 1996 da Folha de São Paulo, momento que se cria o Conselho Federal de Acupuntura no Senado, e a Medicina que sempre vinha criticando a Acupuntura e chamando os médicos que atuavam com Acupuntura de charlatões, começa a sua briga ferrenha para ir na contra-mão do mundo, pedindo sua exclusividade, uma forma tendenciosa de destruir a Acupuntura no Brasil.

Segue a cópia da Matéria da Folha.

Folha
Foto da página da Folha de São Paulo, retirada no dia 26/07/2019 às 02h40 no link https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/8/28/cotidiano/16.html

Acupuntura no Brasil e no mundo

PAULO NOLETO; GILSON DEVITA

PAULO NOLETO E GILSON DEVITA
A OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhece a acupuntura como sistema eficaz no tratamento de numerosas enfermidades e recomenda sua implantação nos serviços de saúde pública.
A formação do acupunturista, na maioria dos países onde a acupuntura é regulamentada, estrutura-se em graduação em nível de 3º grau (universitária), desvinculada da formação da medicina alopática. Isso porque a acupuntura é um sistema terapêutico que faz parte da medicina tradicional oriental (com mais de 5.000 anos de prática, atualizada), com princípios, metodologia e terapêutica diferentes dos da medicina ocidental alopática (com menos de três séculos de existência).
Está em tramitação no Senado um projeto de lei (PLC-67/95) que regulamenta o exercício profissional da acupuntura, cria a profissão de acupunturista com formação em nível de 3º grau, além das especializações em acupuntura para os profissionais da área de saúde restrita a suas respectivas atribuições e cria o órgão fiscalizador, o Conselho Federal de Acupuntura.
O projeto, atualmente na forma do substitutivo do senador Walmir Campelo, foi amplamente discutido com os setores da área de saúde, sendo apoiado por todos os conselhos profissionais da área, com exceção do CFM (Conselho Federal de Medicina).
O CFM tem longo passado de negação dos méritos da acupuntura e vem posar de defensor da acupuntura para uso exclusivo dos médicos. Ora, os médicos, excetuando os que trabalham com a acupuntura, por nunca terem estudado o assunto em suas formações, o desconhecem. Em vez de tentar impedir a aprovação de projeto de lei de alto nível, que soluciona o exercício da acupuntura no Brasil, acolhendo todas as partes envolvidas, o CFM, num surto egóico e avarento de corporativismo, quer que a acupuntura seja o que nunca foi: prática exclusiva de médicos.
A acupuntura não pertence à medicina ocidental alopática, nem historicamente nem cientificamente! Não podemos caminhar na contramão da história, pois em todo o mundo o acupunturista possui formação desvinculada da alopatia. Na maioria dos países que regulamentaram a acupuntura, ela é ensinada como profissão distinta. Só nos EUA existem mais de 50 faculdades de acupuntura.
Saúde é assunto muito importante para ser decidido só por uma categoria profissional. O Senado, até agora, cumpre responsavelmente o papel de legislar corretamente sobre o assunto.

Paulo Cesar Barbosa Noleto, 35, acupunturista, é presidente do Sindaq-MG (Sindicato dos Profissionais de Acupuntura e Quiropraxia do Estado de Minas Gerais).

Gilson Devita Costa, 41, acupunturista, é diretor administrativo do Sindaq-MG.

Síndrome Bi – Dor nas Articulações

 

dores-articulares-dr-daniel-benitti-cirurgiao-vascular-sao-paulo-campinasBi significa obstrução da circulação de Qi e Xue causado pela debilidade de Qi defensivo. Caracterizado pela invasão de frio, vento e umidade nos canais e colaterais quando a pessoa sua ao receber vento ou se senta e dorme em lugares úmidos ou anda e trabalha em lugar com muita água. A síndrome Bi pode se dividir em diversos tipos, tais como Bi migratório onde o vento é predominante, Bi doloroso onde o frio é predominante, Bi fixo onde a umidade é predominante e Bi febril onde o vento, frio e umidade se convertem em calor.

Diferenciação

O sintoma principal da síndrome Bi são as artralgias acompanhadas de dor e edema de alguns músculos. Em casos crônicos, aparece contratura das extremidades, e inclui inflamação ou deformação das articulações.

  • Bi migratório: Este tipo se caracteriza por dor migratória nas articulações de extremidades, com limitação de movimentos, a dor não é fixa, aversão ao frio, febre, língua com saburra fina e pegajosa, pulso superficial e rápido.
  • Bi doloroso: Artralgia que se alivia com o calor moderado e se agrava com o frio, sem inflamação local, língua com saburra branca e fina, pulso profundo e de corda.
  • Bi fixo: Inchaço da pele e músculos, sensação de peso no corpo e nas extremidades, artralgia com dor fixa, com ataques provocados quando o tempo está chuvoso e nublado, língua com saburra branca e pegajosa, pulso profundo e lento.
  • Bi febril: Artralgia onde não aguenta palpação, com inflamação local em uma ou várias articulações. Os sintomas secundários são febre e sede, língua com saburra amarela, pulso escorregadio e rápido.

Acupuncture

Tratamento

Podemos usar pontos locais dos canais yang de acordo com o local afetado, combinando com os pontos distais para eliminar o vento, frio e a umidade. Em Bi migratórios é tratado principalmente com Acupuntura, em Bi doloroso com moxabustão e Acupuntura. Para a dor grave, usamos agulhas ou moxabustão indireta com gengibre. Em Bi fixo podemos usar Acupuntura e moxabustão e a agulha térmica (quente) também é indicado. Para a Bi febril podemos usar Acupuntura com o método dispersante.

Exemplo de pontos que podem ser usados

  • Dor na articulação do ombro: Jianyu (IG 15), Jianliao (SJ 14), Jianzhen (ID 9), Naoshu (ID 10).
  • Dor na escápula: Tianzong (ID 11), Bingfeng (ID 12), Jianwaishu (ID 14), Gaohuangshu (B 43).
  • Dor no cotovelo: Quchi (IG 11), Chize (P 5), Tianjing (SJ 10), Waiguan (SJ 5), Hegu (IG 4).
  • Dor no punho: Yangchi (SJ 4), Yangxi (IG 5), Yanggu (ID 5), Waiguan (SJ 5).
  • Inchaço e dor nos dedos: Houxi (ID 3), Sanjian (IG 3), Baxie (Extra).
  • Dor na articulação do quadril: Huantiao (VB 30), Yinmen (B 37), Juliao do fêmur (VB 29).
  • Dor na articulação dos joelhos: Liangqiu (E 34), Dubi (E 35), Xiyan médio (extra), Yanglingquan (VB 34), Xiyangguan (VB 33), Yinlingquan (BP 9).
  • Inchaço e dor nas pernas: Chengshan (B 57), Feiyang (B 58).
  • Dor na região dos maléolos: Jiexi (E 41), Shangqiu (BP 5), Qiuxu (VB 40), Kunlun (B 60), Taixi (R 3).
  • Inchaço e dor nos dedos dos pés: Gongsun (BP 4), Shugu (B 65), Bafeng (Extra).
  • Dor na região lombar: Yaoyangguan (DU 3)
  • Dor generalizada: Houxi (ID 3), Shenmai (B 62), Dabao (BP 21), Geshu (B 17).

De acordo com os sinais e sintomas podemos acrescentar o Dazhui (DU 14) para Febre e o Dashu (B 11) para deformações nas articulações.

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É necessário selecionar os pontos locais de acordo com o trajeto dos canais para relaxar os tendões, remover a obstrução dos canais e colaterais, regular a circulação de Qi e Xue e eliminar os fatores patógenos.

Nota: Podemos ver a síndrome Bi na febre reumática, artrite reumatoide e reumática e gota.

Acupuntura é usada como anestesia em cirurgias no Brasil

Em 2009 o Jornal Folha de São Paulo Saúde publicou uma nota sobre o uso da Acupuntura como Anestesia na Cirurgias no Brasil, passando por opiniões de diversos médicos que são a favor e contra.acupuntura-pontos-marcus-yu-bin-pai

 


São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009
ACUPUNTURA É USADA COMO ANESTESIA EM CIRURGIAS NO BRASIL

Procedimento foi difundido na década de 70, mas ainda há poucos estudos internacionais comprovando sua eficácia.
Agulhas são posicionadas em locais específicos e são eletroestimuladas; cérebro recebe a mensagem e libera os analgésicos naturais.

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos brasileiros estão adotando a acupuntura para substituir a anestesia em algumas cirurgias, como as de hérnia inguinal (caroço perto da virilha), nódulos na tireoide e partos cesarianos e normais.

Ao contrário da anestesia tradicional (em que o paciente chega a perder temporariamente todos os sentidos), a analgesia com acupuntura tira a dor, mas mantém os outros sentidos ativos (como movimentos, pressão e calor). A técnica é usada desde a década de 70, quando foram publicados os primeiros estudos chineses. Desde então, nenhum grande centro teve resultados publicados em revistas científicas internacionais.

A primeira cirurgia do gênero foi feita no país em 1978, no Hospital de Clínicas Pedro 2º (ligado à Universidade Federal de Pernambuco), pelo acupunturista Gustavo Sá Carneiro. Carneiro reúne mais de cem casos, ele diz que teve de recorrer à analgesia tradicional em dois deles. Os primeiros resultados foram publicados na revista “Senecta”, em 1982. “Faço cirurgias com acupuntura até hoje, mas ainda enfrento resistência porque a técnica é desconhecida”, diz Carneiro.

Médicos do Hospital de Base de São José do Rio Preto também estão adotando a técnica desde 2002 e reúnem mais de 30 casos. Os resultados ainda não foram publicados. “A técnica não substitui nenhuma outra, mas é mais uma opção”, diz a anestesista e acupunturista Ana Patrícia Moreira Lima.

Antes da cirurgia, o paciente é preparado para se acostumar ao ambiente cirúrgico e costuma passar por sessões de acupuntura em ambulatório.

A cirurgia é um pouco mais demorada do que a convencional, as agulhas levam cerca de 30 minutos para começar a fazer efeito anestésico, mas a recuperação é mais rápida, com menos uso de drogas.

Durante o procedimento, as agulhas são colocadas em áreas como punhos, mãos, tornozelos e perto de onde será feita a incisão. Em seguida, são conectadas a um eletroestimulador. “Essa estimulação manda uma mensagem ao cérebro, que passa a produzir os opioides endógenos [analgésicos naturais]. Assim, o paciente não sente mais dor”, afirma Lima.

O acupunturista Hong Jin Pai, presidente do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo e médico do Centro de Acupuntura do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que não utiliza o método porque ele não é totalmente eficaz. Ele afirma que, em cirurgias de cabeça e pescoço, a taxa de sucesso é de cerca de 75%, e nas abdominais, de 50%. Os outros pacientes recebem anestesia porque não suportam a dor.

Para o cardiologista e acupunturista Evaldo Martins Leite, presidente da Associação Brasileira de Acupuntura, a técnica é vantajosa mesmo nos casos em que é necessário aplicar anestesia, pois o paciente receberá menos drogas por estar parcialmente anestesiado.

“O fato de diminuir a quantidade de anestésico é um ponto positivo. Mas a técnica enfrenta resistência dos próprios acupunturistas”, afirma.

Jin Pai também diz que o tempo de preparo do paciente limita o uso da técnica e que a acupuntura como anestesia só deveria ser recomendada para pacientes alérgicos. “Seria a última alternativa”, afirma.

O anestesista Carlos Eduardo Lopes Nunes, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, diz que a entidade não contraindica a acupuntura como anestesia cirúrgica, mas também não a ensina como método regular.

Segundo Nunes, a sociedade reconhece a aplicação da acupuntura como tratamento da dor crônica. Para o uso em cirurgias, entretanto, ele faz uma ressalva: diz que o procedimento deve ser feito exclusivamente por médicos anestesistas acupunturistas.
“Se o profissional tiver formação clássica e dominar a acupuntura, tudo bem, pois ele poderá mudar a técnica anestésica se for necessário.”


E hoje, 10 anos depois, o que você acha que a classe pensa sobre o assunto?

Acupuntura para o Tratamento de Doenças Cardiovasculares: Uma Revisão Sistemática

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Um bom estudo de Pimentel et.al, da Universidade Federal do Rio de Janeiro publicado na Journal of Acupuncture and Meridian Studies, sobre a Acupuntura no tratamento das Doenças Cardiovasculares.

Só não coloco na categoria dos ótimos por ter excluído de sua base os artigos em idioma da terra mãe da Acupuntura (29 artigos), onde são realizados os estudos mais importante e coerentes (não sendo uma regra), e muito já falei sobre isso e até a dificuldade de incorporar a China, Japão ou Coreia nos estudos sobre Acupuntura. Nenhuma dificuldade no idioma justifica tal fato, até porque a qualidade do estudo se baseia nisso, deve se basear nisso, tudo o que sabemos de Acupuntura veio da China ou do Japão e exclui-los da base de dados é um erro inquestionável (desculpe a dureza).


Acupuncture for the Treatment of Cardiovascular Diseases: A Systematic Review

Introdução

A Organização Mundial de Saúde estima que 17,5 milhões de pessoas morreram de doenças cardiovasculares (DCV) em 2012, representando 31% de todas as mortes no mundo. A doença arterial coronariana (DAC) é a principal causa de morte, seguida por doença vascular cerebral. Juntos, ambos são responsáveis ​​por 7,4 e 6,7 milhões de mortes, respectivamente. O número global de mortes causadas por DCV aumentou 12,5% durante a última década; nas últimas duas décadas, a prevalência de DCVs tem sido particularmente alta em países de baixa e média renda, que respondem por 80% das mortes causadas por DCV. O custo anual estimado de intervenções para prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares nesses países é pouco superior a US $ 8 bilhões. No Brasil, estima-se que aproximadamente US $ 3,2 bilhões foram gastos no setor de saúde com custos diretos para casos de DCV grave em 2004; Combinado com o custo indireto de aposentadorias e benefícios de incapacidade incorridos pelas CVDs, o efeito sobre a economia foi de cerca de US $ 12 bilhões.

Heart checkup

O cenário descrito acima favorece a aplicação de terapias inovadoras e de baixo custo, como a maioria das terapias alternativas e complementares, para tratamento e prevenção de DCV. Métodos de medicina tradicional, incluindo acupuntura, eletroacupuntura (EA) e estimulação de pontos de acupuntura elétrica transcutânea (TEAS), têm sido cada vez mais adotados por profissionais de saúde, apesar da falta de evidências sobre seus efeitos sobre DCV.

A acupuntura é um método terapêutico tradicional da Ásia Oriental, que remonta a mais de 2000 anos. Baseia-se na estimulação neural periférica pela introdução de agulhas em regiões específicas da superfície do corpo, chamadas pontos de acupuntura ou acupontos, com a intenção de promover mudanças orgânicas e funcionais para fins terapêuticos ou simples neuromodulação. A comunidade científica ocidental vem estudando a eficácia da acupuntura e seus mecanismos fisiológicos de ação no alívio da dor, revelando ser um poderoso modo de estimulação sensorial. Recentemente, o número de estudos publicados sobre os efeitos da acupuntura em um amplo espectro de patologias e etiologias, como infecção, inflamação, disfunção do sistema nervoso autônomo, periférico e central, distúrbios metabólicos e DCVs aumentou.

EA é um método de acupuntura em que os acupontos são estimulados por uma corrente elétrica pulsante aplicada através de agulhas metálicas de um dispositivo de eletroestimulação. Uma das principais vantagens do EA, do ponto de vista clínico ou de pesquisa, é sua capacidade de definir a intensidade de maneira objetiva e quantificável, alterando a amplitude da onda e a freqüência.

Estimulação de pontos de acupuntura elétrica transcutânea (TEAS) é outro método de acupuntura. Baseia-se na aplicação de uma corrente elétrica pulsante na superfície da pele, acima das regiões correspondentes aos acupontos, usando eletrodos. Estudos realizados com ratos demonstraram que a eficácia e os mecanismos da resposta analgésica induzida pelo TEAS são semelhantes aos induzidos pelo EA e pela acupuntura. Além disso, foi demonstrado que a estimulação eléctrica em um ponto de acupunctura com a utilização de eléctrodos pode atingir tecidos profundos e induzir os efeitos pretendidos, sem a necessidade de agulhas, deste modo, reduzindo intercorrências causadas por agulhas, tais como desconforto por perfuração , risco de futuras infecções e argiria localizada.

Atualmente, os efeitos da acupuntura, EA e TEAS para o tratamento de DCVs ainda são pouco conhecidos, e a maioria de seus mecanismos ainda não foram completamente elucidados. Assim, o objetivo do presente estudo foi revisar a literatura sobre os efeitos da acupuntura, EA e TEAS nas DCVs.

Métodos

Esta revisão sistemática seguiu as recomendações dos Itens de Relatórios Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta-Análises, bem como o tutorial para a escrita de revisões sistemáticas.

Realizamos buscas bibliográficas nas bases de dados PubMed, SciELO e PEDro, utilizando combinações concomitantes e alternadas dos seguintes descritores em inglês: “acupuntura”, “eletroestimulação” e “eletroacupuntura” com “hipertensão”, “doença cardiovascular”, “artéria coronária”. “E” coração “como Medical Subject Headings (MeSH, http: // http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html); e os seguintes são os descritores portugueses: “acupuntura”, “eletroestimulação” e “eletroacupuntura” com “hipertensão”, “doenças cardiovasculares”, “doença coronariana” e “válvula cardíaca”. Dois revisores extraíram os dados independentemente. Ensaios clínicos publicados entre janeiro de 1997 e setembro de 2017, em inglês ou português, que forneceram o texto completo nas bases de dados mencionadas e indicaram resultados quanto à associação de uma das técnicas relevantes para tratamento e/ou prevenção de DCV, foram incluídos neste estudo. Revisões, estudos observacionais e experimentais usando modelos animais foram excluídos do estudo.

A qualidade metodológica dos estudos foi analisada com base no escore da escala Physiotherapy Evidence Database fornecida no banco de dados do PEDro (Tabela 1). Esta análise foi realizada de forma independente por dois avaliadores, e os desacordos foram resolvidos por discussão e consenso. Se um estudo selecionado não foi pontuado nesta base de dados, os autores o classificaram usando a versão da escala portuguesa (brasileira).

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TABELA 1: Escala da PEDro

Resultados

Foram selecionados 506 artigos, dos quais 120 foram excluídos com base na data de publicação, 316 foram excluídos por não serem ensaios clínicos, 37 foram excluídos por não estarem disponíveis em inglês ou português (29 em chinês, 2 em espanhol, 2 em alemão, 1 em russo, 1 em japonês, 1 em coreano e 1 em persa) e 16 foram excluídos por não associar diretamente uma das técnicas com pelo menos uma DCV. Finalmente, 17 estudos foram incluídos na presente revisão (fig. 1) e estão resumidos na Tabela 2.

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Diagrama de fluxo PRISMA. PRISMA, Preferred Reporting Items para Revisões Sistemáticas e Meta-Análises.

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C = indivíduos do grupo controle; P = indivíduos no grupo placebo; T = indivíduos no grupo tratado; R = indivíduos no grupo de referência; LN = método de deixar a agulha; SPM = método de Sparrow Pecking (bicar de pardal).
Na análise da variabilidade da freqüência cardíaca, a HF tem uma grande correlação com a modulação parassimpática da freqüência cardíaca, enquanto a LF está relacionada à modulação simpática.

Discussão

Nos estudos analisados ​​nesta revisão, o acuponto mais utilizado entre as diferentes técnicas foi o acuponto PC6 (Neiguan) (10 estudos, 64,7%), seguido pelo acuponto E36 (6 estudos, 35,3%) e acupontos auriculares. (4 estudos, 23,5%). O uso simultâneo de acupontos PC6 e E36 também foi observado em cinco estudos clínicos para o tratamento da hipertensão. Anatomicamente, o coração é inervado pelos segmentos inferiores do nervo torácico e cervical superior, que também inervam a área somática ao redor do acuponto PC6. Além disso, o acuponto PC6 localiza-se na superfície do antebraço em região correspondente ao trajeto anatômico do nervo mediano, o que pode corroborar a relação entre o estímulo pontual e as alterações fisiológicas observadas no sistema cardiovascular.

Dentre as DCV, às quais as técnicas analisadas foram aplicadas clinicamente, a mais comum foi a hipertensão, totalizando 10 estudos. Destes, nove estavam relacionados à acupuntura e apenas um à EA, com 80% relatando resultados positivos na modulação da doença através da redução da pressão arterial (PA). Abdi et al realizaram um ensaio clínico randomizado duplo-cego controlado, no qual pacientes obesos e hipertensos (não recebendo terapia medicamentosa) foram submetidos à acupuntura auricular ou EA abdominal, em Tianshu (E25), Weidao (VB28), Zhongwan (VC12), Acupontos de Shuifen (VC9), Guanyuan (VC4) e Sanyinjiao (BP6), durante 6 semanas, mostrando uma diminuição mais expressiva na pressão arterial sistólica (PAS) e na pressão arterial diastólica (PAD) por EA abdominal em comparação à acupuntura auricular. Em um ensaio clínico randomizado, cego para avaliadores e para estatístico, conduzido por Liu et al, 15 pacientes hipertensos moderados primários foram submetidos à acupuntura nos pontos de acupuntura IG11, BP4, E36, F3 e PC6 duas vezes por semana durante 8 semanas; uma redução foi observada na PAD, mas não na PAS, apesar da melhora observada no tônus ​​parassimpático. Yin et al, em outro ensaio clínico duplo-cego randomizado controlado, submeteram 21 pacientes hipertensos ou pré-hipertensos por 8 semanas de tratamento com acupuntura em vários acupontos, incluindo E36 e PC6, observando uma diminuição da PAS e PAD ao final de 17 sessões de tratamento em comparação com o grupo de acupuntura sham. Curiosamente, em um estudo, cego para os participantes e para estatísticos, realizado por Li et al., 65 pacientes hipertensos moderados (não recebendo medicação anti-hipertensiva) foram tratados com EA em PC5, PC6, E36 e E37 uma vez por semana durante 8 semanas, evidenciando uma redução na PAS e PAD, acompanhada por uma redução significativa na norepinefrina plasmática e níveis de renina no final do seguimento, sugerindo uma modulação fisiológica pela EA. Severcan et al relataram um aumento na concentração plasmática de óxido nítrico (NO) com uma diminuição na PAS e PAD observada após 10 semanas de tratamento de pacientes hipertensos com acupuntura em EXTRA 3 (Yintang), R3, F3, BP9, IG4 Pontos de acupuntura, C7, E36 e BP6. O NO é um potente vasodilatador produzido nas células endoteliais vasculares pela conversão do aminoácido arginina em citrulina, pela ação enzimática da NO sintase e desempenha um papel anti-hipertensivo crítico na homeostase da PA. EA, também, inibe o estímulo simpático, regulando a expressão de NO sintase no sistema nervoso central. O efeito depressor da EA sobre a PA ocorre principalmente pela vasodilatação dos vasos mesentéricos causada pela inibição do tônus ​​simpático, responsável pela vasoconstrição.

Ao contrário dos estudos acima, Yeh et al, em um ensaio clínico randomizado, não observaram efeitos na PA e no equilíbrio simpático-vagal após 10 semanas de acupuntura auricular para o tratamento de pacientes com hipertensão primária. Além disso, Jiang, em um estudo controlado randomizado com 60 pacientes hipertensos, tratou o grupo de intervenção diariamente com acupuntura nos acupontos IG11 (Quchi), E40 (Fenglong) e F3 (Taichong) por 30 minutos, durante 6 dias, não observando diferenças na PA entre os grupos intervenção e controle após o seguimento. Isso pode ser explicado pelo fato de alguns pacientes serem, geralmente, de baixa resposta à acupuntura para redução da PA, evidenciando a necessidade de compreensão dos mecanismos envolvidos para uma prescrição mais precisa da acupuntura com esse objetivo.

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A DAC foi outra importante aplicação da acupuntura entre as DCVs, observada em cinco estudos. Zamotrinsky et al, em um estudo controlado randomizado, submeteram 10 pacientes com DAC com incapacidade de realizar qualquer atividade sem angina ou angina em repouso para AA auricular.

Após 10 procedimentos, o AE exerceu um efeito vagotônico/simpaticolítico com uma diminuição do limiar de angina, com os pacientes não mais desenvolvendo angina em repouso ou após uma carga física moderada. Além disso, a dependência do tratamento com vasodilatadores diminuiu consideravelmente. Além disso, a EA melhorou as proteínas induzidas pelo estresse, como a proteína de choque térmico (HSP70i), que participa na eliminação de proteínas danificadas ou defeituosas, inibindo diretamente a apoptose.

Curiosamente, Wang et al mostraram, em um estudo randomizado controlado com 60 pacientes, que 30 minutos de EA administrada no acuponto PC6 antes da cirurgia de troca valvar cardíaca leva à cardioproteção, evidenciada por níveis séricos pós-operatórios reduzidos de troponina I cardíaca, marcador crítico de lesão miocárdica, menor uso de drogas inotrópicas e menor tempo de permanência na unidade de terapia intensiva. A ação cardioprotetora da EA também foi estudada por Wang et al em um estudo randomizado controlado com 204 pacientes. A AE foi realizada 30 minutos nos pontos de acupuntura Antiguan (PC6) e Ximen (PC4) 1 a 2 horas antes da intervenção coronária percutânea, resultando em uma menor incidência de infarto agudo do miocárdio, melhora na função cardíaca e menos eventos adversos, como súbita morte, arritmias, insuficiência cardíaca, trombose aguda, enfarte do miocárdio e AVC após intervenção coronária percutânea. Ho et al estimularam o acuponto EXTRA-6 de 22 pacientes que tiveram DAC angiograficamente comprovada (> 50% de estenose de diâmetro) por 30 minutos, demonstrando que a acupuntura melhorou a função cardíaca nesses pacientes, mas não nos controles. Embora o anteriormente descrito, Kurono et al demonstraram que em pacientes com angina vasoespástica, a acupuntura no acuponto EXTRA-6 poderia ser deletéria, levando a vasoespasmo da artéria coronária.

Segundo Lomuscio et al, o tratamento com acupuntura nos acupontos PC6, C7 e B15 leva a benefícios semelhantes aos da amiodarona, um agente antiarrítmico que é o fármaco mais eficaz no mundo para o tratamento da fibrilação atrial, reduzindo a recorrência de fibrilação atrial após terapia de cardioversão elétrica. Eletroestimulação transcutânea para isquemia periférica do membro foi estudada por Yilmaz et al, a eletroestimulação do nervo peroneal produziu um aumento substancial na velocidade do sangue na artéria tibial anterior, associada a melhores desfechos clínicos, em termos de maior distância percorrida. Os dois últimos estudos não sugeriram nenhum mecanismo para os efeitos observados.

Em conclusão, esta revisão demonstra que a acupuntura pode ser uma alternativa viável como terapia complementar para DCV, particularmente para hipertensão e DAC. No entanto, a heterogeneidade dos estudos não permite uma padronização de sua aplicação para cada doença específica, tornando necessários novos estudos para que seu uso se torne realidade.